A Perda de Seguidores e a Guerra de Informação: Como a Politização Afeta o Prestígio do Exército Brasileiro

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Nos últimos anos, o Exército Brasileiro vem apresentando uma notável perda de seguidores nas redes sociais, evidentemente que vai além dos números e reflete uma crise de percepção pública provocada por politização, desinformação e campanhas que têm como alvo a reação das Forças Armadas. Mais do que um problema de imagem, essa situação ameaça o reconhecimento de uma das instituições mais profissionais e respeitadas do Brasil, tanto nacional quanto internacionalmente.

Uma queda que preocupa: redes sociais e prestígio institucional

Dados públicos revelam que apenas entre janeiro e fevereiro de 2024, o Exército Brasileiro perdeu cerca de 730 mil seguidores em seu perfil oficial no Instagram, passando de 8.364.000 para 7.634.286 seguidores, uma média de mais de 4 mil por dia. Essa queda é sintomática de uma desconfiança crescente da sociedade, impulsionada por uma intensa polarização política e por campanhas de desinformação que associaram injustamente a imagem da instituição a ideologias partidárias.

Essa falsa associação contaminou o debate público, distorcendo o papel constitucional das Forças Armadas, que têm como missão a defesa da pátria, a garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, a garantia da lei e da ordem — e não o envolvimento político-ideológico.

Imagem representativa – gerada por IA

Função institucional clara e inegociável


As Forças Armadas têm uma missão clara e fundamental, definida pela nossa Constituição:
proteger o país, garantir a soberania e atuar em defesa da nação . Esse papel não inclui, em hipótese alguma, envolvimento com disputas políticas ou ideológicas.

É importante lembrar que a opinião pessoal de um militar não representa a posição oficial da instituição a quem ele pertence . As Forças Armadas funcionam com base em regras, planejamento e leis, e até hoje, nenhuma norma, decreto ou artigo da Constituição foi alterada para permitir qualquer tipo de atuação ideológica por parte dessas instituições .

As forças armadas existem para servir ao Brasil como um todo, independentemente de partidos ou opções de políticas. E é justamente essa neutralidade que garante a confiança e o respeito que uma sociedade deve ter por eles.

O papel de definir os rumores políticos do país pertence exclusivamente à sociedade civil, por meio do voto. Cabe a cada brasileiro, nas urnas, escolha seus representantes no Legislativo. São esses parlamentares que têm a atribuição legal de elaborar leis, fiscalizar o Executivo e aprovar ou rejeitar orçamentos e políticas públicas. Portanto, a atuação política é uma prerrogativa dos cidadãos e de seus representantes eleitos, não das instituições militares.

As consequências da manipulação e a crise de identidade nacional

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A frase popular “uma mentira contada mil vezes se torna verdade” nunca foi tão precisa para descrever a atual crise de enfrentamento pelas Forças Armadas. Os setores organizados da sociedade passaram a investir em narrativas distorcidas para enfraquecer instituições pilares da soberania nacional. Como resultado, muitos brasileiros hoje desconfiam mais de seus próprios militares do que de políticos que frequentemente usam o discurso fácil e populista para dividir a opinião pública.

Essa desconexão faz com que parte da população passe a admirar forças estrangeiras, muitas vezes sem conhecer a realidade e o profissionalismo das Forças Armadas brasileiras. Em um verdadeiro golpe de marketing, os políticos conseguiram transferir a insatisfação pública para instituições de Estado, enquanto foram protegidos pela retórica e pela manipulação.

Dividir para conquistar: uma tática antiga, agora digital

O velho ditado “dividir para conquistar”, historicamente utilizado em contextos de dominação e controle, ressurge com força no ambiente político e ideológico atual. Hoje, essa tática é aplicada de forma estratégica, especialmente nas redes sociais, onde o eleitor, ao invés de analisar propostas e escolher com base em convicções pessoais, é induzido a se posicionar por palavras de ordem superficial.

A lógica imposta é binária: “se você não é esse, automaticamente é o outro” , ignorando nuances e impedindo qualquer visão crítica e imparcial. O que deveria ser uma escolha racional e democrática se transforma em uma disputa passional, quase tribal, onde valores individuais, identidade e senso crítico são substituídos por uma fidelidade cega a “chapas” .

Essa dinâmica cria dois grandes currais eleitorais , reduzindo o debate público a uma torcida de futebol. A pluralidade de ideias desaparece, e a vontade popular se retoma à adesão emocional a apenas dois lados, sem espaço para alternativas. A pergunta que fica é: quando e onde perdemos nossa capacidade de decidir com autonomia e consciência?

Ao longo desse processo, a individualidade do eleitor foi sequestrada, transformada em um código de barras ideológico onde cada cidadão é limitado a uma posição previsível no espectro político, eliminando, assim, o verdadeiro exercício da democracia.

Profissionalismo reconhecido internacionalmente, mesmo com poucos recursos

Apesar da deficiência histórica de investimentos, em que o peso do orçamento da Defesa do Brasil é menor que o de vários países em desenvolvimento, as Forças Armadas Brasileiras continuam sendo referência em profissionalismo e eficiência. As tropas do Exército, da Marinha e da Aeronáutica são qualificadas para operar em diversos cenários, inclusive internacionais, e são constantemente requisitadas para missões de paz e cooperação.

Diversos países buscam realizar treinamentos conjuntos com nossas tropas para absorver o conhecimento técnico e tático brasileiro, fruto de uma doutrina sólida e adaptável, que também fornece preparo físico, conhecimento geoestratégico e disciplina.

Grandes eventos militares internacionais no Brasil em 2025

CORE 2025 terá como cenário operacional a Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso, no sertão baiano. Exército Brasileiro

O ano de 2025 destaca ainda mais a prestígio das Forças Armadas do Brasil no cenário global. Dois grandes exercícios militares multinacionais estão programados para ocorrer em território nacional:

  • CORE 25 (Exercício Combinado de Operação e Rotação) : Realizado em conjunto entre o Exército Brasileiro e o Exército dos Estados Unidos, este ano o exercício ocorrerá no Nordeste do Brasil. A operação simboliza a interoperabilidade entre forças e a importância estratégica do Brasil na América Latina.

  • Operação Formosa : Operação simulando um desembarque completo, com os  Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil inserindo em campo todos os seus meios. No ano passado, 2024 contou com a presença de tropas dos Estados Unidos e China, além de dezenas de observadores internacionais. É um exemplo concreto de que, mesmo com ideologias distintas, países reconhecem o valor técnico das nossas tropas e, que neste ano, estas tropas e outras, estarão em nosso solo para ajustamento de manual básico de conduta e, observando o quanto nossos militares são profissionais.

Além disso, outro exercício relevante ocorreu este mês de março, a Operação Joana D’Arc , também na Costa do Nordeste, envolvendo a Marinha do Brasil e a Marinha Francesa. Este tipo de cooperação mostra a inserção do Brasil em contextos de segurança marítima internacional e seu comprometimento com a estabilidade regional.

Operação Jeanne D’arc 2024 Foto: Luiz Camões

Uma guerra de narrativas: a internet como campo de batalha

No mundo globalizado e hiperconectado, a internet se transformou em um novo campo de batalha ideológica e informacional . O compartilhamento inconsequente de conteúdos não verificados, muitas vezes motivado por raiva, frustração ou visões ideológicas, vem enfraquecendo não apenas a imagem das Forças Armadas, mas também a própria noção de soberania nacional.

Slogans apelativos como “compartilhe antes que apaguem” e “compartilhe sem dó” são amplamente utilizados para notícias falsas ou distorcidas, que, mesmo desmentidas por fontes oficiais, continuam circulando em nome de causas políticas específicas. Esse comportamento alimenta um ciclo contínuo de desinformação e polarização, minando a confiança popular nas instituições de Estado.

Kamikazes digitais e o ataque à própria defesa

Esse cenário fomentou o surgimento dos chamados “kamikazes digitais”, cidadãos que, muitas vezes sem plena consciência, passam a atacar as próprias instituições que garantem a estabilidade do país, como as Forças Armadas. Influenciados por campanhas de manipulação bem estruturadas, muitos brasileiros passaram a enxergar seus militares como inimigos, quando na verdade são eles os principais guardiões da integridade territorial e da soberania nacional.

O paradoxo se intensifica quando os ataques à Defesa Nacional servem de justificativa para os políticos que historicamente defendem o sucateamento das Forças Armadas. Ao enfraquecer institucionalmente o poder militar, esses mesmos atores ganham espaço para defender a “realocação” de recursos para outras áreas, sob o pretexto de maior “eficiência”. Esse redirecionamento de palavras, na prática, contribui para a estagnação tecnológica, perda de capacidade operacional e desvalorização de uma instituição que é estratégica para a proteção da Amazônia Legal e da Amazônia Azul.

Orçamento distorcido e desinformação seletiva

Um exemplo claro de manipulação dessa narrativa pôde ser visto em 2024, quando o portal da CNN Brasil publicou uma matéria destacando que 78% do orçamento do Ministério da Defesa era destinado ao pagamento de pessoal . Embora o dado seja factual, o texto omite um elemento fundamental: o contexto internacional e os desafios específicos enfrentados pelas Forças Armadas brasileiras.

A matéria, disponível no site da CNN Brasil ( confira aqui ), afirma que esse índice seria desproporcional se comparado aos Estados Unidos. No entanto, não foi esclarecido que o Brasil investe, proporcionalmente, uma parcela ínfima do que países como os EUA destinam à sua defesa — tanto em valores absolutos quanto em capacidade de investimento real.

Imagem: Gasto militar com pessoal no Brasil é, proporcionalmente, mais que o triplo dos EUA – CNN Brasil

Na prática, após a folha de pagamento, resta muito pouco no orçamento brasileiro para aquisições de novos equipamentos, modernizações ou investimentos em pesquisa e desenvolvimento estratégico. Isso impede que o Brasil avance tecnologicamente e mantenha o nível de prontidão necessário diante das crescentes novidades globais e regionais.

Soberania se defende com verdade e preparo

A manipulação da opinião pública por meio da desinformação nas redes sociais representa um risco real e silencioso à soberania nacional. A defesa de um país não se limita a armamentos; passa também pela preservação da reposição das instituições que o protegem.

As Forças Armadas brasileiras são essenciais para a proteção de nossas fronteiras, de nossas riquezas naturais e da estabilidade institucional do Estado Democrático de Direito. Enfraquecê-los por meio de campanhas descrédito e cortes orçamentários estratégicos não é apenas irresponsável, é perigoso.

Imagem representativa – gerada por IA

Quem perde com tudo isso?

A resposta é direta e simples: o maior prejudicado é o povo brasileiro. Quando um país não valoriza sua própria defesa, permite o sucateamento das instituições responsáveis ​​por sua segurança. Fechando os olhos para o desmonte da estrutura militar, comprometendo seu futuro e sua soberania.

Em vez de idolatrar políticos ou repetir slogans vazios nas redes sociais, a sociedade deveria concentrar sua atenção em cobrar dos verdadeiros responsáveis ​, aqueles que têm o poder da caneta, que aprovam orçamentos e decidem onde os recursos serão aplicados. São eles que devem promover uma política séria de fortalecimento das instituições do Estado, inclusive das Forças Armadas , principalmente diante da dimensão continental do Brasil.

Como reflexão, deixo uma sugestão simples ao leitor: pesquise o tamanho territorial de alguns países europeus e veja quanto cada um investe em defesa. Em seguida, compare com o território brasileiro. Se aplicarmos a mesma proporção orçamentária, veremos que o valor destinado à defesa no Brasil seria insuficiente para proteger especificamente a região Sudeste.

Mesmo com recursos limitados, as Forças Armadas brasileiras seguem apresentadas em todas as regiões do país, não , cumprindo suas missões constitucionais, muitas vezes em condições adversas, auxiliando ribeirinhos ou populações em locais isolados que não representam apelo para que a mídia tenha vontade de mostrar o que está sendo realizado. E mais uma vez, utilizarei um ditado popular: “Quem não é visto, não é lembrado”.

Conclusão: restauração da confiança exige consciência nacional

A restauração da prestígio das Forças Armadas passa pela conscientização do povo brasileiro. É preciso considerar o papel constitucional das instituições militares, valorizar os seus feitos, entender a sua importância estratégica e, sobretudo, distinguir o Estado de governo. As Forças Armadas não são adversárias da democracia, mas garantidas dela.

Caberá à sociedade decidir se continuará acreditando em slogans ou se buscará compreender a complexidade e a seriedade de quem veste a farda para defender o Brasil, todos os dias, muitas vezes longe dos holofotes.

Luiz Camões – Jornalista

Autor

  • Jornalista especializado em Defesa e Segurança (MTB 37358/RJ), veterano militar e ex-integrante de unidades especiais, com sólida atuação na cobertura de atividades das Forças Armadas brasileiras. Possui formação complementar em Estágios de Correspondente para Assuntos Militares, realizados pelo Exército Brasileiro em diferentes biomas, além de capacitações no COPPAZNAV (Marinha do Brasil) e no CCOPAB (Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil), voltadas à cobertura em áreas de conflito. Atualmente aplica seus conhecimentos técnicos na produção de conteúdos jornalísticos realistas e acessíveis sobre o ambiente operacional das tropas, contribuindo para a valorização e compreensão da importância das Forças Armadas pelo público civil. Em 2011, deixou os registros de lado para atuar diretamente no desastre da Região Serrana do RJ, realizando mapeamentos e coordenando informações em áreas isoladas, o que lhe rendeu uma Moção de Reconhecimento da Câmara de Vereadores de Sumidouro-RJ. Diretor de Conteúdo Audiovisual da Defesa TV e Defesa em Foco, é responsável por reportagens e documentários que aproximam a sociedade dos bastidores da Defesa Nacional.

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