Diante de um cenário global cada vez mais instável — com crises econômicas, colapsos climáticos e falhas institucionais — cresce, ainda que timidamente, o número de brasileiros que estão se preparando para enfrentar adversidades graves. Conhecidos como “preppers” ou preparadores, esses cidadãos adotam uma abordagem proativa em relação à sobrevivência e à autossuficiência. Mas, afinal, quantos são? E por que o Brasil precisa de muitos outros?
Um movimento silencioso, mas crescente
O termo prepper deriva do inglês “to prepare” (preparar) e se refere a pessoas que se antecipam a situações de crise. Isso pode incluir desde o armazenamento de alimentos e água até o domínio de técnicas de sobrevivência, produção de energia alternativa e construção de redes de apoio comunitário.
No Brasil, o movimento ainda é pouco visível, em parte por preconceito cultural, pela associação equivocada com extremismo ou paranoia, e pela falta de campanhas educativas. No entanto, dados indiretos mostram que a mentalidade de preparação está ganhando força, especialmente após eventos como:
-
A pandemia de COVID-19, que escancarou a vulnerabilidade da logística urbana e do sistema de saúde;
-
As inundações e apagões que afetaram diversos estados nos últimos anos;
-
A instabilidade econômica e fiscal, com projeções de crise até 2027;
-
O avanço da criminalidade em centros urbanos, que exige preparação até para deslocamentos diários.
Quantos preppers existem no Brasil? Estimativas realistas
Apesar da ausência de dados oficiais, estimativas baseadas em padrões internacionais e comportamento digital permitem calcular a base atual de preparadores no país.
Nos Estados Unidos, onde o movimento é mais consolidado:
-
Existem entre 15 a 20 milhões de preppers ativos, cerca de 4% a 6% da população.
No Brasil, com 214 milhões de habitantes:
-
Estimativa conservadora: 0,2% a 0,5% da população adota práticas compatíveis com a preparação estratégica.
-
Isso representa 428 mil a 1,07 milhão de brasileiros com algum nível de engajamento na preparação civil.
Essa população inclui:
-
Preparadores conscientes (que se autodeclaram como preppers);
-
Sobrevivencialistas urbanos;
-
Pessoas que armazenam alimentos ou medicamentos;
-
Agricultores e moradores de áreas rurais que já vivem com maior autossuficiência.
Sinais de crescimento no Brasil
-
O canal “Sobrevivencialismo” no YouTube ultrapassa 1 milhão de inscritos, com vídeos sobre horta urbana, defesa pessoal e kits de emergência.
-
Grupos em redes como Telegram e Facebook sobre “prepping”, “colapso”, “crise alimentar” e “autossuficiência” já somam dezenas de milhares de membros.
-
A busca por filtros de água portáteis, geradores solares e mochilas táticas cresceu exponencialmente em marketplaces como Amazon e Shopee nos últimos 3 anos.
-
O interesse por cursos de primeiros socorros, bushcraft e cultivo orgânico dobrou em plataformas como Hotmart, Sympla e SESC/SENAR.
Por que o Brasil precisa de mais preparadores?
-
Fragilidade das grandes cidades
-
A urbanização acelerada e a dependência de cadeias logísticas centralizadas tornam metrópoles brasileiras vulneráveis a colapsos de abastecimento, apagões e surtos de violência.
-
Quanto mais pessoas preparadas em cada bairro, menor a pressão sobre o sistema público em momentos de crise.
-
-
Baixo nível de educação em resiliência civil
-
Poucas escolas brasileiras ensinam noções de sobrevivência, orientação, purificação de água ou jardinagem.
-
Expandir o número de preppers é também espalhar conhecimento essencial à vida.
-
-
Mudanças climáticas e desastres naturais
-
O Brasil já enfrenta enchentes catastróficas, estiagens prolongadas e escassez hídrica em grandes centros.
-
Preparadores locais podem salvar vidas e evitar tragédias maiores ao saberem como agir antes da chegada de socorro.
-
-
Cenário fiscal e econômico incerto até 2027
-
Projeções oficiais apontam rombo nas contas públicas, risco de inflação, congelamento de gastos e possíveis medidas de contenção que afetem a população.
-
Preparadores se antecipam, criando redes de apoio, estoques e alternativas energéticas.
-
Preparar não é temer: é cuidar
O perfil do novo preparador brasileiro não é paranoico, radical ou isolado — é consciente, racional e orientado à comunidade. Em vez de esperar respostas prontas de governos ou instituições frágeis, ele age localmente, ensina vizinhos, cultiva alimentos e se organiza em rede.
Mais do que sobrevivência, o movimento é sobre resiliência. E isso não se constrói em meio ao caos, mas com tempo, informação e planejamento.
Iniciativas que podem fortalecer o movimento no Brasil:
-
Campanhas públicas de educação em resiliência civil
-
Inclusão de noções básicas de autossuficiência no currículo escolar
-
Criação de cooperativas e hortas comunitárias urbanas
-
Fortalecimento de redes de escoteiros, grupos de defesa civil voluntária e escotismo do mar
-
Incentivo à pesquisa acadêmica sobre comportamento preparador e resposta comunitária a crises
Estrutura:
1. O que é um Prepper?
-
Pessoa que se prepara para crises.
-
Foco em sobrevivência, autossuficiência e resiliência.
2. Estimativa de Preppers no Brasil:
-
Base: 214 milhões de habitantes
-
Estimativa: 0,2% a 0,5% da população
-
Número: entre 428 mil e 1,07 milhão
3. Por que o número precisa crescer?
-
Cidades vulneráveis a desabastecimento
-
Risco de apagões e instabilidade social
-
Mudanças climáticas severas
-
Crise econômica prevista para até 2027
4. Sinais de Crescimento no Brasil
-
Canais de YouTube com +1 milhão de inscritos
-
Grupos de Telegram com dezenas de milhares
-
Aumento nas vendas de itens de sobrevivência
5. O que um Prepper faz?
-
Armazena alimentos e água
-
Aprende primeiros socorros
-
Monta kits de emergência
-
Cria redes de apoio comunitário
-
Cultiva horta e gera energia
6. Preparar não é temer, é cuidar.
-
Informação = proteção
-
Preparação = liberdade
Não se trata de “se”, mas de “quando”
Crises acontecem — sejam econômicas, energéticas, climáticas ou institucionais. A pergunta não é se elas virão, mas quem estará pronto quando chegarem.
O Brasil precisa de mais preppers, não como alarmistas, mas como cidadãos lúcidos que constroem uma sociedade mais preparada, segura e autônoma. A hora de agir não é em 2027. É agora.