A Contra-Almirante (Médica) Maria Cecilia Barbosa da Silva Conceição assumirá, no dia 25 de abril, a Direção do Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD), no Rio de Janeiro (RJ). Primeira mulher a ocupar o cargo máximo da principal unidade de saúde da Marinha do Brasil, a médica intensivista retorna ao local onde iniciou sua trajetória na Força Naval, há quase 30 anos.
Acostumada a mares nem sempre tranquilos, como a Unidade de Pacientes Graves da Emergência e a Unidade de Terapia Intensiva do próprio HNMD, a médica intensivista se prepara para uma nova e desafiadora missão: ser a primeira mulher a ocupar o cargo de maior responsabilidade no hospital onde ela mesma iniciou sua carreira na Marinha, há quase 30 anos.
Nessa entrevista, a Almirante Maria Cecilia relata sobre sua paixão pela medicina, o que a motivou a ingressar na Força Naval, suas conquistas e planos. Confira!
Agência Marinha de Notícias (AgMN): Quando ingressou na Marinha, em 1995, a senhora esperava chegar tão longe na carreira?
Contra-Almirante (Médica) Maria Cecilia: Quando nós entramos, sabemos que a carreira do médico normalmente vai até Capitão de Mar e Guerra. Alguns são escolhidos e chegam ao cargo de Almirante. O hospital foi um dos motivos que me atraiu para a Marinha e sempre pensei em melhorar profissionalmente e crescer na carreira. Mas nunca imaginei ser promovida e muito menos chegar à Direção de um hospital daquele porte.
AgMN: Como foi o início da carreira no Hospital Naval Marcílio Dias?
Contra-Almirante (Médica): Em 1994, estávamos fazendo as provas de ingresso e eu já tinha quase cinco anos de formada em medicina, já trabalhando em outras atividades. E quando fui fazer a prova prática, no Hospital Naval Marcílio Dias, falei comigo mesma: é aqui que eu vou ficar. Consegui passar no concurso, ingressei no Curso de Formação de Oficiais em 1995 e fui para o Hospital Naval Marcílio Dias, onde permaneci por mais de 20 anos.
AgMN: Antes de ingressar na Marinha, a senhora já exercia a medicina. Foi difícil essa trajetória até concluir a faculdade?
Contra-Almirante (Médica): Foi difícil porque eu vim de uma família simples. Estudei a vida toda em escola pública. Então, no ensino médio, quando pensei em fazer medicina, eu sabia que precisava estudar muito mais para conseguir ingressar em uma faculdade pública, porque meus pais não teriam condição de me manter em uma faculdade particular. Na época, consegui uma bolsa em um curso pré-vestibular e estudava o dia inteiro. Fiz a prova, consegui entrar, finalmente, na Unirio em 1985 e me formei em 1990.
AgMN: Nesse caminho, a senhora enfrentou algum tipo de desencorajamento?
Contra-Almirante (Médica): Na realidade, meus pais sempre me incentivaram muito. Eles nunca imaginaram ter um filho médico, por isso sempre me incentivaram muito. Como eu disse, nossa família era simples: minha mãe era dona de casa; meu pai, músico. Então, acho que eles não imaginavam que eu conseguiria ingressar em uma faculdade de medicina. E outra surpresa foi quando entrei para a área militar, que também me incentivaram.
AgMN: Já na Marinha, a senhora serviu ao Hospital Naval Marcílio Dias por mais de 20 anos, em diferentes setores. Qual deles mais desafiou a senhora?
Contra-Almirante (Médica): Todo o hospital é um desafio, porque é o principal da Marinha e ali é a última instância da saúde. Quando o paciente chega ao Hospital Naval Marcílio Dias, alguns provenientes do Rio de Janeiro e outros de fora de sede, temos que resolver. Todos os setores, todas as especialidades, sabem que são finalísticas, que têm que dar a pronta resposta que o paciente precisa na assistência. Por isso, todas são desafiadoras. Tem áreas que são mais urgentes, como a própria emergência e a terapia intensiva, em que o paciente às vezes chega em condição de quase morte. Depende de toda a equipe fazer com que ele consiga se recuperar. E esse é um desafio muito grande, mas que também traz uma gratificação enorme quando conseguimos ver o paciente se recuperando daquele mal que o afetou.
AgMN: Entre aquela médica que começou como Guarda-Marinha em 1995 e a que retorna hoje como Almirante ao mesmo hospital, o que mudou?
Contra-Almirante (Médica): Nossa, mudou muita coisa. Quando você entra, tem uma expectativa, uma experiência, que vai se modificando conforme o que vai encontrando durante a vida. Quando nós entramos, atuamos basicamente na área técnica. Conforme ficamos mais antigos, ganhamos essas funções administrativas. Então, eu sou uma pessoa diferente nesse sentido, mas com o mesmo amor à medicina e à busca por sempre dar a melhor assistência e ter empatia pelo paciente. Isso eu preservo até hoje.
AgMN: Quais são os planos para a Direção do Hospital Naval Marcílio Dias?
Contra-Almirante (Médica): É um hospital que vem crescendo, vem ganhando uma notoriedade. Há dois anos ganhou o prêmio de Acreditação Hospitalar pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). É o único hospital militar com esse título na América do Sul. E os planos são de conhecer o que precisamos ainda trabalhar e, na sequência dos diretores anteriores, prosseguir nas melhorias do atendimento, na qualificação profissional. Todas as conquistas já obtidas precisam ser mantidas e essa manutenção é um trabalho que não para.
AgMN: A senhora é a primeira mulher a comandar o maior hospital da Marinha. Como é receber essa responsabilidade, representando outras mulheres? A senhora considera esse o ápice de sua carreira?
Contra-Almirante (Médica): O Hospital Naval Marcílio Dias é o principal hospital da Marinha, tem muitos profissionais atuando, milhares de pacientes sendo atendidos diariamente. Então, é um desafio muito grande e uma oportunidade para comprovar que as capacidades de gerenciamento, operativa, técnico profissional independem do sexo. Eu fico muito feliz que as mulheres estão ingressando, conquistando seus espaços. Até 1980, não havia nenhuma na Força e hoje temos mais de 8,5 mil, um efetivo de quase 12%. E à medida que elas vão conquistando cargos mais altos, isso serve de incentivo para as que estão ingressando entenderem que podem também alcançá-los conforme seu comprometimento, sua dedicação e sua capacidade. Eu acreditava que ser diretora do Hospital Naval Marcílio Dias era algo muito longe da minha realidade. Não tenho dúvida de que é o ápice da minha carreira.
Vem Pra Marinha
Além de atuarem nos hospitais da Força Naval, como fez a Almirante Maria Cecilia ao longo de sua carreira, os médicos militares podem também ser designados para servir em navios, laboratórios e em ações de assistência às comunidades ribeirinhas, conforme a especialidade de cada profissional. Para ingressar, é preciso ser aprovado em concurso público para o Corpo de Saúde da Marinha e, em seguida, no Curso de Formação de Oficiais.
O edital para carreira foi publicado em fevereiro e as inscrições poderão ser feitas a partir de 30 de abril. Já para temporários, cada um dos nove Distritos Navais, distribuídos por todo o País, publica anualmente avisos de convocação de voluntários para vagas disponíveis. Mais informações no www.concursos.marinha.mil.br.
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