Como ingressar na Carreira de Capelão Naval

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Em fevereiro, a Marinha do Brasil (MB) divulgou o edital do concurso público para o Quadro de Capelães Navais. Neste ano, há uma vaga disponível, destinada exclusivamente a pastores da Igreja Batista. Podem participar do processo seletivo candidatos brasileiros natos, de ambos os sexos, com idade entre 30 e 40 anos e, no mínimo, três anos de experiência em atividades pastorais.

As inscrições terão início no dia 30 de abril e se estenderão até o dia 14 de maio. A taxa de inscrição é de R$ 140,00, mas os candidatos inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) ou doadores de medula óssea podem solicitar isenção da taxa entre os dias 30 de abril e 6 de maio.

O candidato aprovado em todas as fases e classificado dentro do número de vagas ingressa na MB como Guarda-Marinha. Durante o Curso de Formação, realizado no Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW), no Rio de Janeiro (RJ), os alunos recebem uma remuneração bruta inicial de R$ 9.070,60, além de uniforme, alimentação e assistência médica, odontológica, psicológica, social e religiosa. Após a conclusão do curso, os formandos são promovidos ao posto de Primeiro-Tenente.

O Serviço de Assistência Religiosa da Marinha (SARM)

A prestação de assistência religiosa aos militares — assegurada pela Constituição Federal — materializa-se, na Marinha, por meio da Capelania Naval, que oferece gratuitamente serviços religiosos e pastorais semelhantes aos prestados por igrejas civis. Segundo o Primeiro-Tenente (Capelão Naval – Pastor) Wellington Guimarães dos Reis, 38, na MB, esta assistência ganha um papel ainda mais relevante devido às peculiaridades da carreira.

“A rotina de um militar da Marinha tem muitas particularidades, especialmente quando ele está embarcado. Nessa condição, o militar enfrenta o distanciamento geográfico, o afastamento de sua família e de sua comunidade religiosa, além de uma rotina exigente, marcada por longas jornadas, estado constante de prontidão e elevado nível de estresse físico e emocional”, explica o militar, cuja formação teológica foi em uma instituição batista.

Para o Tenente Wellington, é justamente nesses momentos mais desafiadores que o Capelão se faz presente, caminhando lado a lado com a Família Naval, de modo a oferecer acolhimento, orientação espiritual e uma palavra de paz a quem mais precisa.

O discurso é reforçado pelo Primeiro-Tenente (Capelão Naval – Padre) Adilson Silva dos Santos, para quem a experiência como capelão foi fundamental para o crescimento e amadurecimento pessoal, além de proporcionar uma visão mais ampla e profunda sobre as múltiplas áreas de atuação de um sacerdote.

“O Serviço de Assistência Religiosa na Marinha é de singular importância, pois, por meio das diversas atividades realizadas pelos capelães, é possível prestar apoio religioso e espiritual aos militares, sobretudo nos momentos mais difíceis da missão”, afirma.

Tenente Adilson, sacerdote da Igreja Católica, desejava ser militar desde a infância. “O uniforme camuflado e a rotina dos militares sempre chamaram a minha atenção”, relembra. Mesmo após ter se tornado sacerdote, o sonho de seguir carreira nas Forças Armadas permaneceu latente. “Quando tomei conhecimento da abertura do edital do concurso para Capelão Naval, fiz minha inscrição e, por obra da providência divina, fui aprovado em todas as etapas”, conta o padre, natural de Salvador (BA).

Já para o Primeiro-Tenente Wellington, a trajetória foi diferente. Mineiro de Patos de Minas (MG), o Tenente cresceu em Brasília, uma cidade conhecida pelo forte foco em concursos públicos. Assim, o sonho de ingressar nas Forças Armadas surgiu aos 20 anos, quando, ao ouvir de um amigo militar sobre o concurso para capelão, vislumbrou a oportunidade de unir duas vocações: servir como funcionário público e exercer o ministério pastoral.

“Quando era jovem, um grande amigo comentou sobre a possibilidade de ser pastor dentro das Forças Armadas e de como era importante a presença de um capelão na vida dos militares. Meus olhos brilharam quando ouvi isso pela primeira vez. Uma grande inspiração foi o filme ‘Até o Último Homem’, que mostra a importância da espiritualidade no campo de batalha. E assim, com propósito e convicção, abracei essa missão de ser capelão na Marinha do Brasil”, relembra o Primeiro-Tenente Wellington.

Os Capelães também destacaram que a experiência na carreira naval tem sido fundamental para o crescimento e amadurecimento pessoal, além de proporcionar uma visão mais ampla sobre as diversas áreas de atuação de um sacerdote ou pastor. “Tenho a oportunidade de conviver com pessoas de diferentes formações, experiências e níveis hierárquicos. Essa troca diária de vivências enriquece nossa visão de mundo e amplia nossa empatia, ensinando-nos a ouvir, compreender e servir melhor”, aponta o Primeiro-Tenente Wellington.

“Dentre as experiências vividas, uma em particular me marcou profundamente. Durante a atuação no pelotão em apoio à Defesa Civil, que se dedica ao enfrentamento de desastres naturais, como fortes chuvas, enchentes e alagamentos, tive a oportunidade de intermediar o resgate de uma família isolada em uma área alagada. A gratidão sincera daquela família foi, sem dúvida, uma das maiores recompensas que recebi no exercício do meu ministério”, concluiu o Capelão Naval Padre Adilson.

Preparação para o Concurso

A aprovação do Padre Adilson foi fruto de sua dedicação aos estudos e foco nos objetivos. “Nada é impossível para aqueles que possuem autoconfiança e determinação. Tudo só é alcançado com muito foco e disciplina”, aconselha o Primeiro-Tenente Adilson, que conta que não utilizou nenhum método ou cronograma específico para o concurso. “Para me preparar, estudei o material sugerido na bibliografia do edital e estudei com as provas dos concursos anteriores”, diz.

Como começou a nutrir o sonho de se tornar capelão aos 20 anos de idade e o concurso exige idade mínima de 30 anos, o processo de preparação do Pastor Wellington foi um projeto de longo prazo. “Foi uma preparação contínua, que não se iniciou quando surgiu o edital do concurso, nem foi específica apenas para esta prova, mas para o ministério pastoral e que acabou contribuindo muito para a prova”, resume o capelão que também utilizou como recurso as edições anteriores do concurso e ressaltou que o método foi extremamente útil para entender o estilo da banca, os temas mais cobrados e os pontos que precisava se aprofundar mais.

Os dois capelães navais concordam que um aspecto fundamental para quem deseja conquistar uma vaga é encontrar o equilíbrio entre os estudos e a preparação física. “É preciso entender que ambos são importantes, uma realidade não deve caminhar sem a outra. Não se trata apenas de praticar atividade física, mas também de adotar mudanças nos hábitos”, aponta o Primeiro-Tenente Adilson. E conforme explica o Pastor Wellington, tudo está interligado, pois somos corpo, mente e espírito, não dá para cuidar de uma área e deixar de lado a outra.

“Cuidar da espiritualidade também é fundamental, não apenas para manter o equilíbrio emocional, mas, no caso do capelão, para aprofundar-se em conteúdos que serão cobrados na prova, já que envolvem temas teológicos. Por fim, recomendo estar engajado em uma igreja local. A vivência comunitária fortalece a fé, e ministrar aulas ou participar de grupos de estudo ajuda a fixar o conhecimento. Ensinar é, muitas vezes, uma das formas mais eficazes de aprender”, finaliza.

Etapas do Concurso

A primeira etapa é constituída por uma Prova Escrita Objetiva de Conhecimentos Profissionais e Redação. O edital ressalta que a prova, com duração total de 4 horas, é de caráter eliminatório e classificatório.

Os aprovados na fase inicial serão convocados para as etapas complementares, que incluem desde a verificação de dados biográficos e de documentos até a realização da inspeção de saúde, avaliação psicológica e do Teste de Aptidão Física. Nessa fase também ocorre a prova de títulos. A preparação física e o conhecimento sobre os títulos exigidos podem ser decisivos para a classificação dos candidatos.

Teste de Aptidão Física (TAF)

O TAF, de caráter eliminatório, tem como propósito aferir se a aptidão física do candidato preenche os padrões físicos exigidos para a carreira da MB. Para Capelães Navais, o teste será realizado da seguinte forma: a natação é de 25 metros em 60 segundos para o sexo masculino e 90 segundos para o sexo feminino; já a corrida, são 2.400 metros em 17 minutos para homens e 18 minutos e 30 segundos para mulheres.

Foto de Capa: Terceiro-Sargento (GR) Ana

Fonte: Agência Marinha

Autor

  • Jornalista especializado em Defesa e Segurança (MTB 37358/RJ), veterano militar e ex-integrante de unidades especiais, com sólida atuação na cobertura de atividades das Forças Armadas brasileiras. Possui formação complementar em Estágios de Correspondente para Assuntos Militares, realizados pelo Exército Brasileiro em diferentes biomas, além de capacitações no COPPAZNAV (Marinha do Brasil) e no CCOPAB (Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil), voltadas à cobertura em áreas de conflito. Atualmente aplica seus conhecimentos técnicos na produção de conteúdos jornalísticos realistas e acessíveis sobre o ambiente operacional das tropas, contribuindo para a valorização e compreensão da importância das Forças Armadas pelo público civil. Em 2011, deixou os registros de lado para atuar diretamente no desastre da Região Serrana do RJ, realizando mapeamentos e coordenando informações em áreas isoladas, o que lhe rendeu uma Moção de Reconhecimento da Câmara de Vereadores de Sumidouro-RJ. Diretor de Conteúdo Audiovisual da Defesa TV e Defesa em Foco, é responsável por reportagens e documentários que aproximam a sociedade dos bastidores da Defesa Nacional.

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