“Felicidade e orgulho! Muitas mulheres que vieram antes de mim foram importantes para que, hoje, eu estivesse aqui.” É assim que a Segundo-Tenente Catarina Dowsley, 24, começa descrevendo a sensação de ser a primeira mulher do Quadro Complementar do Corpo da Armada (QC-CA) da Marinha. Após quase um mês da formatura no Curso de Formação de Oficiais (CFO), Catarina está vivendo um sonho que começou ainda na adolescência, o de tornar-se militar.
Para ela, a profissão é uma mistura de abdicação e de realização pessoal. “Ser militar é sacrificar sua vida em prol de algo muito maior que si, que é a Nação. Esse sentimento representa para mim a realização de viver um propósito nobre.”
A preparação para o concurso da Marinha começou ainda na faculdade. Graduada em Engenharia Eletrônica e de Computação, a militar precisou conciliar os estudos para o concurso com o Trabalho de Conclusão de Curso e o antigo emprego. O sonho de ser Oficial da Marinha foi o que deu o gás de que ela precisava para alcançar o objetivo.
“Tinha pouco tempo para estudar, porém sempre aproveitava qualquer tempo livre para isso. Eu ia do trabalho para casa de ônibus e usava esse tempo para fazer questões antigas, de provas anteriores. Além disso, sempre separava de duas a três horas antes de dormir para revisar os conteúdos”, completou a Segundo-Tenente.
A intensa rotina de preparação ainda se manteve após a aprovação. Com o nome publicado na lista dos aprovados, em uma posição de pioneirismo, a Segundo-Tenente seguiu para a primeira etapa de sua vida militar: o Curso de Formação de Oficiais, uma experiência descrita como “transformadora”.
Com diversas matérias e aulas diárias, Catarina aprendeu sobre a vida militar e o funcionamento da Marinha. “Tive matérias específicas do Corpo da Armada. Essa foi definitivamente a parte mais difícil, aprender conteúdos sobre navegação, meteorologia, manobras de um navio”, comentou.
A formação no Quadro Complementar do Corpo da Armada (QC-CA) qualifica a Oficial para servir nos diversos navios da Marinha. Entre as funções exercidas, estão a condução, a operação e a manutenção dos meios navais. Além disso, os militares QC-CA também podem executar funções administrativas e operativas em organizações militares de terra.
A vida a bordo
O primeiro contato com a vida a bordo veio no maior navio de guerra da América Latina, o Navio-Aeródromo Multipropósito (NAM) “Atlântico”. Durante o período de Estágio de Embarque, a Segundo-Tenente conheceu as particularidades da vida a bordo, acompanhando a rotina da tripulação em viagem, antecipando o que Catarina irá viver em breve, ao embarcar em um dos navios da Marinha. “O embarque no NAM foi muito produtivo, pude ver com os meus próprios olhos as funções que irei desempenhar a bordo. Uma experiência única”, comentou a militar.
Agora, a Segundo-Tenente aguarda a definição para qual navio será designada ao finalizar o Curso de Aperfeiçoamento em sua área, etapa que começou logo após a formatura no CFO.
Pioneirismo
Com um processo que começou em 1980, com o extinto Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha (CAFRM), a figura feminina marca presença, hoje, em todos os Corpos e Quadros da Marinha do Brasil – a primeira Força a aceitar o ingresso de mulheres nas Forças Armadas.
Em 1997, houve uma reestruturação nos Corpos e Quadros da Marinha, ampliando ainda mais o número de mulheres na Força. Atualmente, elas totalizam 6.922 militares no Serviço Ativo da Marinha, sendo 3.197 Oficiais e 3.725 Praças.