O Dilema da Dupla Hélice por Peterson Batista

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A era digital não é mais ficção científica que víamos em filmes, jogos ou imaginávamos num futuro distante; é a arena complexa e volátil onde organizações públicas e privadas lutam por relevância, eficiência e, acima de tudo, sobrevivência. Nesse cenário hiperconectado, a convergência explosiva da Inteligência Artificial (IA), a necessidade imperativa de Governança (tanto de Dados quanto Corporativa) e a crescente sofisticação das ameaças que exigem robustez em Segurança da Informação e Defesa Cibernética formam um nó górdio que desafia líderes e estrategistas. Ignorar a intrincada dança entre esses elementos não é apenas imprudente, é um convite ao fracasso.

Estamos participando de uma transformação sem precedentes, onde a IA deixa de ser um mero tópico de imaginação para se tornar o motor de inovação e otimização em processos decisórios, operações e interações com stakeholders. Contudo, esse poder avassalador traz consigo uma responsabilidade igualmente massiva. Como garantir que os algoritmos que moldam nosso futuro operem de forma ética, transparente e segura? Como proteger o ativo mais valioso da era digital – os dados – em um ambiente onde as fronteiras se dissolvem e os ataques se tornam mais furtivos e devastadores?

A resposta reside em uma abordagem holística e integrada. A Governança de Dados estabelece as regras do jogo para a coleta, armazenamento, uso e proteção da informação, enquanto a Governança Corporativa define as estruturas de poder, responsabilidade e prestação de contas que guiam a organização como um todo. Ambas são fundamentais, mas insuficientes sem o escudo e a espada da Segurança da Informação e da Defesa Cibernética, que protegem ativamente contra violações, espionagem e sabotagem digital.

Este artigo se propõe a desatar esse nó, explorando as interconexões vitais e, por vezes, conflituosas, entre IA, Governança e Segurança/Defesa Cibernética. Mergulharemos nos desafios e oportunidades que emergem dessa intersecção, analisando frameworks, melhores práticas e, crucialmente, casos reais que ilustram tanto o potencial transformador quanto os riscos inerentes. O objetivo não é oferecer respostas fáceis, mas sim provocar uma reflexão crítica e fomentar um diálogo urgente sobre como navegar neste novo paradigma, equilibrando inovação com responsabilidade, agilidade com controle, e oportunidade com segurança. A questão não é *se* sua organização será impactada, mas *como* ela está se preparando para liderar – ou ser deixada para trás – nesta nova fronteira digital.

O Dilema da Dupla Hélice: IA como Motor e Risco na Transformação Digital

A Inteligência Artificial (IA) irrompeu no cenário corporativo e governamental não como uma onda passageira, mas como um tsunami tecnológico, redefinindo paradigmas e prometendo ganhos exponenciais de eficiência e capacidade analítica. Seu papel na transformação digital é inegável: desde a automação de tarefas repetitivas até a capacidade de processar volumes massivos de dados para extrair insights preditivos, a IA atua como um catalisador poderoso. Em processos decisórios, algoritmos de *machine learning* e *deep learning* oferecem uma capacidade analítica sobre-humana, identificando padrões e correlações que escapariam à percepção humana, otimizando desde cadeias logísticas até diagnósticos médicos e alocação de recursos públicos.

No entanto, essa capacidade transformadora é uma faca de dois gumes afiados. A dependência crescente de sistemas de IA introduz vulnerabilidades sistêmicas. Decisões automatizadas, se baseadas em dados enviesados ou algoritmos falhos, podem perpetuar e amplificar desigualdades, gerar discriminação ou levar a erros estratégicos catastróficos. A “caixa-preta” de muitos modelos complexos dificulta a rastreabilidade e a responsabilização, criando um vácuo de governança que desafia frameworks tradicionais. Quem é responsável quando um carro autônomo causa um acidente ou um sistema de crédito nega acesso a serviços essenciais com base em critérios opacos?

A proteção de dados assume uma criticidade ainda maior neste contexto. Sistemas de IA são famintos por dados; quanto mais dados, melhor (em teoria) seu desempenho. Isso intensifica a pressão pela coleta e processamento de informações, muitas vezes sensíveis, aumentando exponencialmente a superfície de ataque e o valor do alvo para agentes maliciosos. A própria IA, ironicamente, pode ser usada para aprimorar ataques cibernéticos, criando *malware* mais sofisticado, *phishing* personalizado em escala ou quebrando defesas de forma mais eficiente. A segurança dos próprios modelos de IA contra manipulação (ataques adversariais) ou roubo de propriedade intelectual torna-se uma nova fronteira de preocupação.

O desafio, portanto, não é apenas adotar a IA, mas fazê-lo de forma consciente, estratégica e, acima de tudo, segura e ética. Ignorar os riscos inerentes à sua implementação é tão perigoso quanto ignorar seu potencial. As organizações precisam questionar não apenas *o que* a IA pode fazer por elas, mas *como* garantir que seu uso esteja alinhado a princípios éticos, requisitos regulatórios e uma postura de segurança robusta. A verdadeira maestria na era da IA não reside apenas em dominar a tecnologia, mas em dominar sua governança e mitigar seus riscos intrínsecos.

A Bússola e o Leme: Navegando a Complexidade com Governança de Dados e Corporativa

Se a IA é o motor potente da transformação digital e os dados são seu combustível, a Governança (tanto de Dados quanto Corporativa) representa a bússola moral e o leme estratégico essenciais para navegar as águas turbulentas da inovação. Em um ambiente onde a velocidade da mudança tecnológica supera a capacidade regulatória e a complexidade dos sistemas desafia a supervisão humana, estabelecer estruturas robustas de governança não é uma opção, mas uma condição *sine qua non* para a sustentabilidade e a confiança.

Governança de Dados: Do Controle à Habilitação Estratégica

A Governança de Dados transcende a mera conformidade com regulamentações como a LGPD ou GDPR. Trata-se de estabelecer um framework abrangente que defina propriedade, qualidade, segurança, privacidade e uso ético dos dados em todo o seu ciclo de vida. Frameworks como DAMA-DMBOK ou COBIT 2019 oferecem guias valiosos, mas sua aplicação no contexto da IA exige adaptação. A qualidade e a representatividade dos dados que alimentam os algoritmos são cruciais; dados enviesados ou incompletos levam a resultados enviesados, como alertado por pesquisas do Gartner que indicam que a falta de dados “prontos para IA” compromete o sucesso das iniciativas. A governança deve garantir não apenas a proteção, mas a curadoria ativa dos dados para maximizar seu valor e minimizar seus riscos.

  • Dilema Público: Governos detêm vastos conjuntos de dados sobre cidadãos. O uso de IA para otimizar serviços públicos (ex: alocação de recursos de saúde, previsão de crimes) oferece um potencial imenso, mas levanta questões críticas sobre vigilância, privacidade e equidade. Um exemplo pode ser visto em iniciativas de cidades inteligentes no Brasil, onde a integração de dados de múltiplos sensores e fontes para gestão urbana exige uma governança extremamente cuidadosa para evitar usos indevidos ou discriminatórios, um desafio constante documentado em estudos sobre a administração pública digital.
  • Dilema Privado: Empresas coletam dados de clientes em escala massiva para personalizar serviços e direcionar marketing via IA. O dilema reside em equilibrar a personalização e a inovação com o respeito à privacidade e a prevenção de manipulação. O caso da própria EY, ao implementar sua transformação interna com IA, destaca a necessidade de determinar como a tecnologia afetará a segurança das informações e as políticas de privacidade, exigindo uma governança proativa e integrada à estratégia.

Governança Corporativa: O Papel Crítico da Liderança

A Governança Corporativa, por sua vez, estabelece as responsabilidades do Conselho de Administração e da alta gestão na supervisão estratégica, gestão de riscos e garantia de conformidade. A IA introduz uma nova camada de complexidade. Conselheiros e executivos precisam desenvolver uma compreensão suficiente da tecnologia para questionar premissas, avaliar riscos (incluindo os cibernéticos e éticos) e garantir que a implementação da IA esteja alinhada aos valores e objetivos de longo prazo da organização. Guias como o “Guia de Inteligência Artificial para Conselheiros de Administração” (mencionado na pesquisa inicial) tornam-se ferramentas essenciais.

  • Dilema Público: A implementação de políticas nacionais de IA ou de segurança cibernética, como a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial ou a Política Nacional de Segurança Cibernética, exige uma coordenação interministerial e uma governança clara para definir papéis, responsabilidades e mecanismos de supervisão, envolvendo múltiplos atores (governo, academia, setor privado, sociedade civil), um desafio complexo de governança multinível.
  • Dilema Privado: Uma instituição financeira que adota IA para análise de crédito ou detecção de fraudes enfrenta o desafio de garantir que os modelos sejam justos, transparentes (na medida do possível) e auditáveis, ao mesmo tempo que protege segredos comerciais e cumpre regulamentações setoriais rigorosas. A governança corporativa deve assegurar que existam controles internos adequados e que o Conselho esteja ciente dos riscos associados, incluindo o risco reputacional de decisões algorítmicas controversas.

A verdadeira provocação reside em questionar se os modelos tradicionais de governança, muitas vezes reativos e focados em conformidade, são adequados para o dinamismo e a opacidade da IA. É preciso evoluir para uma governança mais ágil, adaptativa e proativa, integrada desde o início no design e implementação de sistemas de IA, e que coloque a ética e a segurança no centro da estratégia, não como um apêndice. A falha em adaptar a governança pode transformar o potencial da IA em um passivo incontrolável.

O Escudo Digital e a Espada da IA: Fortalecendo a Segurança e a Defesa Cibernética

No ecossistema digital interconectado, onde a IA acelera a inovação e a governança tenta impor ordem, a Segurança da Informação e a Defesa Cibernética emergem não apenas como funções de suporte, mas como pilares estratégicos indispensáveis. A sofisticação e a frequência das ameaças cibernéticas escalaram a níveis sem precedentes, transformando a proteção de ativos digitais em uma batalha contínua e assimétrica. A introdução da IA neste campo de batalha adiciona camadas de complexidade, atuando tanto como uma arma poderosa para defensores quanto para atacantes.

Requisitos e Estratégias na Era da IA:

Os requisitos fundamentais de segurança – confidencialidade, integridade e disponibilidade – permanecem, mas sua aplicação se torna mais desafiadora. A IA, ao processar e gerar dados em volumes massivos, amplia a superfície de ataque e a criticidade da proteção. Estratégias de segurança devem evoluir de uma postura reativa para uma abordagem proativa e preditiva, incorporando inteligência contra ameaças (*threat intelligence*), caça a ameaças (*threat hunting*) e automação via IA/ML para detecção e resposta a incidentes (SOAR – Security Orchestration, Automation and Response). Frameworks como o NIST Cybersecurity Framework ou a ISO 27001 fornecem bases sólidas, mas precisam ser adaptados para contemplar os riscos específicos da IA, como ataques adversariais a modelos ou envenenamento de dados de treinamento.

Ameaças Emergentes e o Duplo Papel da IA:

A IA está sendo crescentemente utilizada por cibercriminosos para automatizar e escalar ataques. Exemplos incluem a geração de e-mails de *phishing* altamente convincentes e personalizados, a criação de *deepfakes* para engenharia social ou fraude, e o desenvolvimento de *malware* polimórfico capaz de evadir assinaturas tradicionais. Por outro lado, a IA é uma aliada crucial na defesa, como aponta o relatório da EY sobre ciberinteligência. Sistemas baseados em IA podem analisar padrões de tráfego de rede em tempo real, identificar anomalias sutis que indicam uma intrusão, prever vetores de ataque prováveis e automatizar respostas a incidentes, liberando analistas humanos para tarefas mais complexas. A gestão da confiança, risco e segurança da IA (AI TRiSM), destacada pelo Gartner, torna-se essencial para garantir que os próprios sistemas de IA usados na defesa sejam seguros e confiáveis.

Compliance, Gestão de Riscos e a Interconexão Crítica:

A conformidade com regulamentações (LGPD, GDPR, setoriais) é um motor importante, mas não suficiente. A gestão de riscos cibernéticos deve ser integrada à gestão de riscos corporativos e à governança. A IA, a Governança de Dados e a Segurança Cibernética estão intrinsecamente ligadas: uma governança de dados fraca expõe a organização a riscos de segurança e compromete a eficácia da IA; uma IA mal implementada ou insegura cria novas vulnerabilidades; e falhas de segurança podem comprometer dados críticos, violar a privacidade e minar a confiança na IA e na própria organização. A falta de padrões globais consistentes para IA e governança de dados, como alertado pelo Gartner, agrava o problema, exigindo estratégias adaptadas a cada contexto.

  • Case Público: O Sistema Militar de Defesa Cibernética do Brasil (SMDC) exemplifica a necessidade de uma estrutura robusta para proteger infraestruturas críticas nacionais. A integração de IA para análise preditiva de ameaças e resposta automatizada é uma tendência, mas exige protocolos de segurança rigorosos e governança clara sobre o uso de força ou contramedidas no ciberespaço, refletindo os desafios da relação civis-militares no setor.
  • Case Privado: Uma empresa do setor de energia que utiliza sistemas de controle industrial (ICS/OT) conectados à rede enfrenta riscos cibernéticos elevados. A implementação de IA para monitorar anomalias nesses sistemas pode prevenir ataques que causem danos físicos ou interrupções de serviço. No entanto, a segurança da própria solução de IA e a governança dos dados coletados dos sistemas industriais são cruciais para evitar que a solução de segurança se torne um novo vetor de ataque.

A provocação central nesta área é: estamos tratando a Segurança Cibernética e a Defesa como um custo necessário ou como um habilitador estratégico da confiança digital? Em um mundo onde a IA pode ser tanto o veneno quanto o antídoto, a capacidade de uma organização de integrar inteligência, governança e segurança de forma coesa determinará sua resiliência e sua capacidade de prosperar na era digital. A ênfase deve estar na construção de uma cultura de segurança pervasiva, suportada por tecnologia avançada e liderança comprometida.

A Teia Invisível: Interdependência e o Papel Estratégico das Lideranças

As discussões sobre Inteligência Artificial, Governança de Dados, Governança Corporativa, Segurança da Informação e Defesa Cibernética frequentemente ocorrem em silos, tratadas por especialistas de cada área. Contudo, a realidade operacional e estratégica revela uma profunda e inescapável interdependência entre esses domínios. Eles não são pilares isolados, mas fios entrelaçados em uma teia complexa que sustenta (ou derruba) a organização na era digital. Compreender e gerenciar essa interconexão é o desafio central para as lideranças que buscam não apenas sobreviver, mas prosperar.

A Simbiose Crítica:

  • IA depende de Governança de Dados: Modelos de IA são tão bons quanto os dados que os alimentam. Uma governança de dados eficaz garante a qualidade, integridade, privacidade e segurança dos dados, fundamentais para treinar e operar IAs confiáveis e éticas. Sem isso, a IA pode gerar resultados enviesados, inseguros ou ilegais.
  • Governança de Dados necessita de Segurança: Políticas de governança de dados são inúteis se os dados não estiverem protegidos contra acesso não autorizado, corrupção ou roubo. A segurança da informação implementa os controles técnicos e processuais para garantir a confidencialidade, integridade e disponibilidade exigidas pela governança.
  • Segurança é potencializada (e desafiada) pela IA: A IA oferece ferramentas poderosas para detectar e responder a ameaças cibernéticas de forma mais rápida e eficaz. No entanto, a própria IA introduz novas vulnerabilidades (ataques adversariais, segurança dos modelos) que precisam ser gerenciadas, exigindo uma evolução das práticas de segurança.
  • Governança Corporativa abrange tudo: A responsabilidade final pela supervisão da estratégia de IA, pela adequação da governança de dados e pela robustez da segurança cibernética recai sobre a alta administração e o Conselho. A governança corporativa deve garantir que essas áreas estejam alinhadas à estratégia geral, que os riscos sejam compreendidos e mitigados, e que haja uma cultura organizacional que valorize a ética, a segurança e o uso responsável da tecnologia.

O Papel Estratégico das Lideranças:

Navegar essa complexidade exige uma liderança visionária, informada e colaborativa. Os líderes (CEOs, CIOs, CISOs, CDOs, Conselheiros) não podem mais delegar essas questões apenas para especialistas técnicos. Precisam:

  1. Fomentar a Colaboração: Quebrar os silos organizacionais, promovendo o diálogo e a colaboração entre as equipes de IA, dados, segurança, risco, compliance e negócios.
  2. Desenvolver Competências: Investir na capacitação própria e das equipes para compreender os fundamentos e as implicações estratégicas da IA, governança e segurança.
  3. Integrar à Estratégia: Tratar essas áreas não como centros de custo ou funções de suporte, mas como componentes integrais da estratégia de negócios e da criação de valor.
  4. Promover uma Cultura de Responsabilidade: Instilar em toda a organização uma cultura que priorize a ética, a segurança e o uso responsável de dados e tecnologias, desde o desenvolvimento até a operação.
  5. Exigir Transparência e Prestação de Contas: Estabelecer métricas claras e mecanismos de supervisão para monitorar a eficácia das iniciativas de IA, governança e segurança, garantindo a prestação de contas em todos os níveis.

A minha provocação para as lideranças é: sua organização está gerenciando esses domínios como peças separadas de um quebra-cabeça ou como um ecossistema interconectado? A capacidade de enxergar e gerenciar a teia invisível que une IA, governança e segurança será um diferencial competitivo crucial. Ignorar essa interdependência é construir castelos sobre areia movediça, fadados a desmoronar diante da primeira tempestade digital.

Provocações para o Debate

Este artigo buscou desvendar a complexa teia que conecta IA, Governança (de Dados e Corporativa) e Segurança/Defesa Cibernética. Mais do que oferecer respostas definitivas, o objetivo é instigar a reflexão e o diálogo entre profissionais e líderes que estão na linha de frente dessa transformação. Para fomentar uma discussão rica e produtiva no LinkedIn, propomos as seguintes provocações:

  1. O Paradoxo da IA na Segurança: Sua organização já utiliza IA para fortalecer a defesa cibernética? Quais os maiores desafios encontrados: custo, integração, falta de competências ou a própria segurança dos modelos de IA? Como equilibrar os benefícios da automação com o risco de novas vulnerabilidades introduzidas pela própria IA?
  2. Governança Ágil vs. Burocracia: Os frameworks tradicionais de Governança de Dados e Corporativa são suficientes para o ritmo da IA? Como criar estruturas de governança que sejam ao mesmo tempo robustas e ágeis, capazes de acompanhar a inovação sem sufocá-la? Compartilhe exemplos de abordagens adaptativas que funcionaram (ou não) em sua experiência.
  3. O Elo Humano na Era da Automação: Com a crescente automação impulsionada pela IA, qual o papel remanescente dos profissionais de dados, segurança e governança? Como as competências precisam evoluir? Estamos preparando nossas equipes (e a nós mesmos) para colaborar efetivamente com sistemas inteligentes ou estamos criando uma dependência perigosa?
  4. Ética e Viés Algorítmico: Além da conformidade legal (LGPD/GDPR), como sua organização aborda proativamente as questões éticas e o risco de viés nos algoritmos de IA, especialmente em decisões críticas (contratação, crédito, segurança pública)? Quais mecanismos de auditoria e transparência são viáveis e eficazes?
  5. Responsabilidade da Liderança: Qual o nível de envolvimento real do C-level e do Conselho de Administração nas discussões sobre os riscos e oportunidades da IA e da segurança cibernética? Eles possuem o conhecimento necessário para uma supervisão eficaz? Como podemos elevar essa pauta ao nível estratégico que ela merece?
  6. Colaboração Público-Privada: Diante de ameaças cibernéticas cada vez mais sofisticadas e da necessidade de padrões para IA, qual o modelo ideal de colaboração entre setor público, setor privado e academia no Brasil? Onde estão os maiores gargalos e oportunidades para uma ação conjunta mais eficaz na proteção do ecossistema digital nacional?

Convido você a compartilhar suas perspectivas, experiências e desafios nos comentários. Como sua organização está navegando nesta intersecção crítica? Quais lições aprendidas podem beneficiar toda a comunidade?

Conclusão: Navegando a Fronteira Digital com Sabedoria e Resiliência

A jornada pela intersecção da Inteligência Artificial, Governança e Segurança Cibernética revela um panorama complexo, repleto de oportunidades transformadoras, mas igualmente semeado de riscos existenciais. Ignorar essa complexidade ou abordá-la de forma fragmentada é uma receita para a irrelevância ou, pior, para o desastre. A sobrevivência e o sucesso na fronteira digital exigem uma mudança de mentalidade: da reação à proatividade, do silo à integração, do controle à habilitação responsável.

Caminhos Práticos:

  • Diagnóstico Integrado: Realizar avaliações holísticas que mapeiem a maturidade e os riscos não apenas em cada domínio (IA, Dados, Segurança, Governança), mas, crucialmente, em suas interconexões.
  • Governança Adaptativa: Implementar frameworks de governança (corporativa e de dados) que sejam flexíveis, baseados em princípios éticos claros e capazes de se adaptar à velocidade da inovação tecnológica, incorporando o conceito de *Security and Privacy by Design* desde a concepção de sistemas de IA.
  • Investimento Estratégico em Segurança: Tratar a segurança cibernética não como um custo, mas como um investimento estratégico essencial para a confiança digital, alocando recursos adequados e adotando tecnologias avançadas (incluindo IA) para defesa proativa.
  • Capacitação Contínua: Investir massivamente na capacitação das lideranças e das equipes, desenvolvendo não apenas competências técnicas, mas também uma compreensão profunda das implicações éticas, legais e estratégicas dessas tecnologias.
  • Ecossistema de Colaboração: Fomentar parcerias e troca de informações sobre ameaças e melhores práticas entre setor público, privado e academia, reconhecendo que a segurança do ecossistema digital é uma responsabilidade compartilhada.

Tendências Futuras:

O futuro reserva uma aceleração ainda maior dessas tendências. A IA Generativa continuará a desafiar modelos de negócios e de segurança. A computação quântica ameaça quebrar a criptografia atual, exigindo uma transição para a criptografia pós-quântica. A regulamentação da IA se tornará mais presente e fragmentada globalmente, exigindo navegação cuidadosa. A convergência entre o mundo físico e digital (IoT, Metaverso) ampliará a superfície de ataque e as implicações da segurança.

Em última análise, a capacidade de navegar com sucesso nesta fronteira dependerá da sabedoria e da resiliência das organizações e de seus líderes. Sabedoria para discernir o potencial real da tecnologia, antecipar seus riscos e guiar sua implementação de forma ética e responsável. Resiliência para se adaptar rapidamente às mudanças, aprender com as falhas e construir defesas robustas contra um cenário de ameaças em constante evolução. A discussão está apenas começando, e a ação coordenada e informada é mais urgente do que nunca.

Autor:
Peterson O. Batista

Principais Fontes:

Gartner. (Diversos artigos e relatórios sobre AI TRiSM, riscos de IA, governança de dados e cibersegurança). Ex: “AI TRiSM: Confiança, risco e segurança em modelos de IA”, “Cibersegurança e IA: como gerenciar riscos”. Acessado em Maio de 2025.

EY – Ernst & Young. (Diversos insights e estudos de caso sobre transformação com IA e cibersegurança). Ex: “Estudo de caso: Como a EY se transformou com a IA”, “IA é a grande aliada da cibersegurança”. Acessado em Maio de 2025.

Microsoft. “Guia de Inteligência Artificial para Conselheiros de Administração”. (PDF referenciado na pesquisa inicial).

Repositório ENAP / Pesquisas Acadêmicas (ResearchGate, SciELO, etc.). (Estudos sobre governança digital no setor público brasileiro, desafios da segurança cibernética, Estratégia Brasileira de IA, Política Nacional de Segurança Cibernética, Sistema Militar de Defesa Cibernética).

Frameworks de Governança e Segurança: DAMA-DMBOK, COBIT 2019, NIST Cybersecurity Framework, ISO/IEC 27001.

Legislação: Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD – Lei nº 13.709/2018), General Data Protection Regulation (GDPR – Regulamento (UE) 2016/679).


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Autor

  • Jornalista especializado em Defesa e Segurança (MTB 37358/RJ), veterano militar e ex-integrante de unidades especiais, com sólida atuação na cobertura de atividades das Forças Armadas brasileiras. Possui formação complementar em Estágios de Correspondente para Assuntos Militares, realizados pelo Exército Brasileiro em diferentes biomas, além de capacitações no COPPAZNAV (Marinha do Brasil) e no CCOPAB (Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil), voltadas à cobertura em áreas de conflito. Atualmente aplica seus conhecimentos técnicos na produção de conteúdos jornalísticos realistas e acessíveis sobre o ambiente operacional das tropas, contribuindo para a valorização e compreensão da importância das Forças Armadas pelo público civil. Em 2011, deixou os registros de lado para atuar diretamente no desastre da Região Serrana do RJ, realizando mapeamentos e coordenando informações em áreas isoladas, o que lhe rendeu uma Moção de Reconhecimento da Câmara de Vereadores de Sumidouro-RJ. Diretor de Conteúdo Audiovisual da Defesa TV e Defesa em Foco, é responsável por reportagens e documentários que aproximam a sociedade dos bastidores da Defesa Nacional.

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