Diferente do perfil tradicional do preparador que acumula suprimentos e estabelece refúgios fixos, uma vertente crescente no Brasil – especialmente em grandes centros urbanos – é a do “prepper móvel”. Esses indivíduos, muitas vezes com poucos recursos, não têm a possibilidade de manter estoques volumosos ou refúgios em áreas afastadas. Em vez disso, apostam na mobilidade, inteligência situacional e conhecimento de terreno como pilares da sobrevivência em um cenário de colapso, seja econômico, político ou causado por desastres naturais.
É importante destacar que cada caso é um caso, e que antes de adotar esse modelo de preparação, o indivíduo precisa avaliar sua segurança, saúde e condição física. Deslocamentos longos e estratégicos exigem preparo físico, mental e logístico. Um evacuação malsucedida por falta de preparo pode ser mais perigosa do que permanecer temporariamente no local.
Mais do que mobilidade, esse tipo de preparador precisa ser um pesquisador constante. É fundamental saber cruzar fatos, analisar informações de forma crítica e antecipar cenários com base em dados reais. Às vezes, uma evacuação pode se revelar um falso alarme — e tudo bem. O importante é agir com base em análises sólidas e não por impulso. Governos tendem a preservar a aparência de normalidade até o último instante, evitando alertar a população para não gerar pânico. Por isso, o prepper urbano deve acompanhar de perto indicadores como a bolsa de valores, flutuação do dólar, aumento da taxa Selic, rumores de saque em supermercados, quedas prolongadas de energia e sinais de convulsão social. Esses fatores podem ajudar a definir o momento certo de evacuar — nem tarde demais, nem cedo demais.
Levantamento Global: Estratégias de Deslocamento em Áreas Urbanas
Estados Unidos (América do Norte):
Nos EUA, a FEMA e a Cruz Vermelha Americana recomendam planos com múltiplas rotas, kits de 72h e GPS portáteis autônomos. Preppers urbanos mantêm rotas para fora do estado e pontos de parada planejados.
Europa (Reino Unido e Alemanha):
Londres e Berlim promovem rotas seguras, oficinas comunitárias e uso de mapas físicos e apps offline. Grupos civis mantêm redes de abrigo e rotas de evacuação treinadas.
Japão (Ásia):
Bairros têm mapas públicos de refúgio. A população carrega mochilas de emergência e sabe deslocar-se a pé com disciplina. Lanternas, rádios e mapas fazem parte do kit padrão.
América Latina (Chile e México):
Cidades como Santiago e Cidade do México desenvolveram iniciativas civis para navegação urbana, com rádios, oficinas de cartografia e redes de apoio pós-desastre.
Brasil:
Enquanto o mundo se organiza, o Brasil segue sem nenhuma política pública nacional de preparação civil. A segurança pública definha, apagões e falta d’água se tornam comuns, e as catástrofes naturais se intensificam. E o governo? Silêncio. Você já viu o governo federal ensinar evacuação à população? A preparação individual se torna, aqui, uma responsabilidade pessoal inadiável.
Materiais & Equipamentos
Mochila 72h:
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Discreta, leve, resistente à água
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Filtro de água, ração de emergência, primeiros socorros
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Documentos, dinheiro, lanterna, canivete, roupas extras
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Mapas físicos, bússola e GPS portátil off-grid (Garmin, etc.)
GPS portátil:
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Não depende de rede celular
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Alimentado por pilhas ou bateria externa
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Requer conhecimento prévio de navegação e topografia
Sem transporte próprio:
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Conhecimento da malha urbana (metrô, ônibus, VLT, trens)
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Aplicativos offline (Moovit, Organic Maps, OsmAnd)
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Rotas a pé entre terminais
Com carro ou moto:
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Manter tanque sempre acima da metade
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É ilegal armazenar combustível em casa (Leis nº 9.605/1998 e nº 8.176/1991)
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Motos têm vantagem em congestionamentos
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Bicicletas dobráveis são alternativa útil
Riscos:
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Engarrafamentos, bloqueios, falta de combustível
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Rotas secundárias devem ser mapeadas e testadas previamente
Sociabilidade e Rede de Apoio
Formada por familiares, amigos ou vizinhos que compartilham valores, informações — mesmo que limitado — e, em alguns casos, planos conjuntos. Cultivar essa rede exige discrição, confiança mútua e comprometimento.
Protocolos básicos:
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Pontos de encontro e abrigo
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Códigos de comunicação
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Rotas compartilhadas
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Ações coordenadas
Comunicação offline:
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Rádios comunicadores (VHF/UHF)
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Aplicativos P2P (Briar, Bridgefy, Meshtastic)
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Sinais manuais, visuais ou sonoros combinados
Abrigo temporário:
Ter “zonas de transição” — casa de amigos, pontos neutros ou até mesmo locais públicos seguros — é essencial, principalmente quando a evacuação imediata não é viável.
Desenvolvimento de Habilidades
Competências-chave:
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Navegação com mapa, bússola, GPS
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Tomada de decisão sob estresse
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Condicionamento físico (deslocamento urbano com carga)
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Comunicação segura e sigilosa
Treinamento:
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Curto prazo (1–3 meses):
Estudo de mapas, caminhada com mochila, uso básico da bússola -
Médio prazo (6–9 meses):
Cursos, simulações em grupo, testes com rádio, condicionamento físico -
Longo prazo (1+ ano):
Planejamento intermunicipal, atualização de rotas e kits, rede de apoio expandida
O deslocamento urbano em tempos de crise não é ficção: é uma possibilidade real e cada vez mais iminente. Esperar por alertas do governo ou por soluções externas pode ser um erro fatal. O preparador urbano precisa agir com antecedência, precisão e responsabilidade.
Mobilidade é poder. Informação é escudo. E comunidade confiável é escada. O mundo já entendeu isso. Agora é hora do Brasil acordar — um cidadão preparado de cada vez.
“Aqui, conhecimento rigoroso e preparação consciente andam juntos. Encontre mais em Defesa.tv.br.”
Referências Bibliográficas
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FEMA – https://www.ready.gov
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Cruz Vermelha Americana – https://www.redcross.org
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Japan Meteorological Agency
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CPRM – Cartografia e Mapas
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Atividade Policial – Armazenamento de combustível
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SurvivalBlog, The Prepper Journal
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Moovit, Organic Maps, OsmAnd
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DEFESA.tv.br – arquivos internos, entrevistas e pesquisas de campo