Curitiba (PR) – Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou os desdobramentos da pior tragédia climática de sua história. Enchentes afetaram 93% dos municípios gaúchos. Como um país de dimensões continentais e abundantes recursos naturais e humanos, o Brasil rapidamente se mobilizou para fazer frente a essa crise. Mas muitos países não têm as mesmas condições de lidar com crises humanitárias, desastres naturais e conflitos. Quando o Estado perde a capacidade de proteger seus cidadãos, a ajuda humanitária internacional da ONU entra em cena, e muitos militares do Exército Brasileiro estão prontos para servir em missões de paz em outros países. São os peacekeepers, ou “mantenedores da paz”.
Durante a missão, cada um deles vive uma experiência particular. “Participar de uma missão de paz da ONU é um sonho, é a possibilidade de colocar em prática aquilo que a gente aprende, e também de exercitar muito mais a tolerância, a compreensão, além de conviver com outras culturas. Assim a gente também aprende a dar mais valor ao que a gente tem e a sentir muito orgulho do nosso País”, destaca a Major Gabriela Rocha Bernardes.
Em junho de 2022, ela se deslocou para o Sudão – a única mulher brasileira na Missão Integrada de Assistência à Transição das Nações Unidas no Sudão (UNITAMS, na sigla em inglês). Ela era responsável por produzir relatórios do comitê que monitorava um acordo de manutenção de paz, um dos focos da missão das Nações Unidas no país. Porém, em abril de 2023, diante de um novo conflito armado, a ONU fez uma operação de retirada dos membros da missão do Sudão. “Sair de lá por conta de um conflito é uma situação difícil, tensa, com riscos, claro, mas o risco é inerente à nossa profissão de militar e às escolhas que a gente faz. Mas a gente é bem treinado, bem capacitado e consegue encarar as dificuldades com mais resiliência e mais tranquilidade”, explica a major.

Já o Subtenente Natalício da Mota Rodrigues enfrentou momentos tensos durante a missão de paz no Haiti, em 2010 (MINUSTAH). Como Comandante de Grupo da Polícia do Exército, ele participou da operação de segurança na realização das eleições presidenciais, em um país devastado por um forte terremoto. O resultado das urnas provocou uma onda de protestos e manifestações, com barricadas nas ruas. “A gente olhava da guarita da guarda e tinham vários pontos de incêndio, tomados por insurgentes. E a gente sabia que, quando saísse, ia ter que enfrentar aqueles pontos para fazer a segurança no Palácio do Governo, que ficava no centro da cidade”, relembra o subtenente.
O capitão veterano Lauro Rodrigues da Veiga participou de quatro missões internacionais e conta alguns momentos memoráveis. O capitão estava em missão em Angola (UNAVEM III) quando a Princesa Diana visitou o país, em janeiro de 1997, fazendo uma campanha contra minas terrestres. “É muito comum acidente com minas lá. Tivemos um episódio de um companheiro que prestou socorro a uma vítima de mina, então, são coisas que marcam a vida da gente”, explica o capitão.

Todos os militares consultados nesta reportagem ressaltaram o quanto a experiência como peacekeeper foi importante no crescimento do militar como pessoa. “Porque a gente começa a dar mais valor ao que a gente tem aqui no Brasil, à nossa casa, à nossa família, às nossas coisas. A gente vê que em muitos países, principalmente na África, a população não tem acesso a isso”, afirma o capitão Lauro. Para o subtenente Natalício, os treinamentos realizados antes do embarque foram muito importantes. “Foi uma experiência muito rica, o nosso contingente foi preparado para isso que a gente passou, e foi realmente condizente com a situação que nós encontramos lá no Haiti.”
Fonte: Exército Brasileiro