O sonho de uma Oficial do Corpo de Fuzileiros Navais inspira a nova geração de mulheres combatentes

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Pioneira entre as Forças Armadas, a Marinha do Brasil (MB) permitiu, em 1981, o ingresso de mulheres em suas fileiras. Desde então, a presença feminina tem se ampliado progressivamente, culminando em 2024, quando elas passaram a compor todos os Corpos e Quadros da Instituição.

Nesse cenário de avanços históricos, destaca-se a trajetória da Capitão-Tenente (Auxiliar Fuzileiro Naval) Débora Ferreira de Freitas Sabino. Aproveitando a oportunidade aberta pela MB, ela ingressou na Força em 2004 como Sargento do Quadro de Músicos, influenciada pelo irmão, também militar e músico. Atuou por dois anos na Banda Sinfônica do Batalhão Naval, até decidir que era hora de ir além.

O interesse pela área operativa a motivou a prestar concurso para o Quadro Auxiliar de Fuzileiros Navais. Aprovada na terceira tentativa, rompeu uma importante barreira ao ingressar no Curso de Especialização em Guerra Anfíbia (C-Esp-GAnf). “Sabia que seria exigente física e psicologicamente. Preparei-me com treino funcional, mochilas com pesos e, principalmente, com a consciência de que precisaria provar minha capacidade em igualdade com os demais”.

Em 2015, após concluir o Curso de Especialização em Guerra Anfíbia, a militar foi selecionada para integrar o 25º Contingente de Fuzileiros Navais em missão de paz no Haiti. Sua atuação incluiu funções como Oficial de Assuntos Civis e de Comunicação Social, que a colocavam em contato direto com a população local e com lideranças comunitárias em áreas de risco.

“Foi impactante ver o estado de vulnerabilidade daquelas comunidades. Mas também aprendi muito com a resiliência do povo haitiano”, relata. Em situações tensas, como distribuições de alimentos, ela coordenava a escolta de mulheres até suas residências, após casos de saque por parte da população masculina.

Apesar da resistência cultural inicial, especialmente por ser mulher em posição de comando, conquistou o respeito da população local e dos próprios colegas de missão. “Ao final, eu era reconhecida como líder. Isso, para mim, foi um marco”, afirma.

Da missão humanitária à formação de novos líderes

De volta ao Brasil, a Capitão-Tenente continuou atuando em funções operativas e administrativas, incluindo o cargo de Imediato do Corpo de Alunos no Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC). “Quando conheceram minha trajetória, o respeito foi natural”, relembra.

Com sólida formação acadêmica, concluiu um MBA em Relações Internacionais e Estudos Estratégicos, no qual pesquisou a Resolução nº 1.325 da ONU, que trata da participação feminina em operações de paz. O tema permanece atual: no momento, a Oficial serve no Centro de Operações de Paz e Humanitárias de Caráter Naval (COpPazNav), organização militar responsável por capacitar militares brasileiros e estrangeiros para missões sob a égide das Nações Unidas.

Naquela organização, coordena o curso de Operações de Paz para Mulheres, que recebe militares e civis, inclusive estrangeiras. “O ‘jeitinho brasileiro’, quando bem aplicado, é um diferencial. Nosso acolhimento, a forma de liderar e de interagir são características elogiadas por todos que passam por aqui”, destaca.

À frente do futuro

Além de atuar no planejamento de exercícios e na elaboração de manuais operacionais para a ONU, a Capitão-Tenente (AFN) Débora foi a primeira mulher a concluir o estágio de artilharia no Batalhão de Artilharia dos Fuzileiros Navais e, atualmente, é uma das vozes mais respeitadas em sua área.

Em relação ao futuro, mantém o foco na excelência. “Quero continuar me aperfeiçoando, aprender novas línguas e garantir que os cursos que conduzimos sejam referência mundial. Mais do que conquistar espaço, quero abrir caminhos para outras mulheres.”

Com quase duas décadas de serviço, a Oficial continua inspirando militares de todo o país, especialmente as novas gerações de mulheres que vislumbram uma carreira na área operativa das Forças Armadas. A elas, deixa um recado direto:

“Não é fácil, mas é possível. Se é o seu sonho, vá em frente. As portas estão abertas — e agora você não estará mais sozinha.”

Para saber mais sobre a trajetória desta pioneira, acesse o canal “Treinamento & Doutrina”, do Comando do Treinamento e do Desenvolvimento Doutrinário do Corpo de Fuzileiros Navais (CTDDCFN), disponível no YouTube e no Spotify.

Assista ao vídeo:

youtube[https://www.youtube.com/embed/SvdxAE_oBnI]

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Fonte: Agência Marinha

Autor

  • Jornalista especializado em Defesa e Segurança (MTB 37358/RJ), veterano militar e ex-integrante de unidades especiais, com sólida atuação na cobertura de atividades das Forças Armadas brasileiras. Possui formação complementar em Estágios de Correspondente para Assuntos Militares, realizados pelo Exército Brasileiro em diferentes biomas, além de capacitações no COPPAZNAV (Marinha do Brasil) e no CCOPAB (Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil), voltadas à cobertura em áreas de conflito. Atualmente aplica seus conhecimentos técnicos na produção de conteúdos jornalísticos realistas e acessíveis sobre o ambiente operacional das tropas, contribuindo para a valorização e compreensão da importância das Forças Armadas pelo público civil. Em 2011, deixou os registros de lado para atuar diretamente no desastre da Região Serrana do RJ, realizando mapeamentos e coordenando informações em áreas isoladas, o que lhe rendeu uma Moção de Reconhecimento da Câmara de Vereadores de Sumidouro-RJ. Diretor de Conteúdo Audiovisual da Defesa TV e Defesa em Foco, é responsável por reportagens e documentários que aproximam a sociedade dos bastidores da Defesa Nacional.

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